Trançando a resistência
O trançar dos cabelos além da estética, um potente ato polÃtico de resistência e existência cultural
por LetÃcia Ferreira e Luara OlÃvia
O cabelo é uma importante caracterÃstica para imagem de muitas mulheres. Uma construção cultural que sempre deu muito valor a forma que elas lidam com suas cabeleiras. As mulheres negras já nascem predestinadas a terem diversas questões com seus cabelos crespos, cacheados, ondulados. Geralmente, isso começa com a mãe não sabendo lidar com tanto volume, com fios desalinhados, com frizz, com a dificuldade de pentear. Muitas mães encontram nas tranças a melhor forma de domar esses cabelos. Domar mesmo, como se fossem um problema real a ser resolvido. Isso enquanto essas meninas negras são pequenininhas e ainda não entendem que desses pequenos gestos, do que escutam, do que veem na mÃdia vão ser motivo para fazer elas quererem alisar cada fio de cabelo da sua cabeça. A partir disso, as tranças se tornam uma alternativa de não perder a auto estima por esses estigmas construÃdos, e uma forma de não cair na imposição do padrão de cabelo liso perfeito.
Box braids, nagô, trança raiz, espinha de peixe. As tranças representam muito a cultura de um povo. Os Ãndios a levam como algo sagrado, uma conexão entre mulheres. Os negros, ao serem capturados e escravizados, separados do seu lugar de origem e tendo seus costumes e tradições constantemente massacrados, encontraram no ato de trançar uma forma de preservar o que carregavam da sua cultura em si, revelando uma significância histórica e valor de resistência à s tranças. Enquanto escravos, mapeavam rotas de fuga nos desenhos das tranças e repassavam a atividade para as gerações mais novas. A moda americana trouxe muito a cultura negra em realce por meio dos raps, das grandes cantoras pop, todos esses artistas tiveram seu papel na difusão da identidade visual negra, e colocaram em evidência o que mais para frente seria considerado um movimento e não apenas moda.